segunda-feira, 5 de março de 2007

A Rua 10 sumiu. E as outras estão no mesmo caminho.

Saiu no Jornal de Brasília de 05/02/2007
VICENTE PIRES
A Rua 10 sumiu
Moradores pagavam para recuperar o asfalto, mas desistiram porque era dinheiro jogado fora
Grasielle Castro

Desde que as aulas da rede pública começaram, há quase um mês, a comerciante Aline Maciel, 29 anos, enfrenta problemas para levar a filha para a escola. A quantidade de buracos que existe em Vicente Pires faz com que carros e ônibus evitem passar pelas ruas. A Rua 10, uma das principais, que liga a Rua 8 à 9, sumiu. O asfalto que havia no lugar foi tomado por enorme cratera. "Os buracos já são antigos. Desde o ano passado, toda vez que chove sofremos com eles. Já reclamei na empresa de transporte público, mas entendo que se não dá nem para atravessar a pista quando chove imagina passar um ônibus", lamenta.Essa situação também atinge quem trabalha no local. O motoboy Mácio Silva, 23 anos, mora e trabalha há seis anos em Vicente Pires. Para ele, que passa pela Rua 10 todos os dias, o problema não tem solução. "Passar por essa rua, mesmo de moto, é praticamente impossível. Há cerca de um ano, após toda a chuva, os moradores faziam o recapeamento. Pararam porque perceberam que o asfalto não durava nem um mês". Para ele, enquanto o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não liberar a licença ambiental e o sistema de esgoto não for feito, os buracos vão continuar a existir.InterA doméstica Natália Araújo, 56 anos, moradora da Rua 90, precisa passar todos os dias pela Rua 10 para chegar na avenida principal da cidade. Ela conta que quando os moradores se reuniram pela primeira vez para asfaltar a rua, ninguém imaginava que teriam de fazer o recapeamento todos os meses. "Enquanto não tiver um sistema de escoamento de água não tem solução. O governo podia, pelo menos, trazer um trator para passar sempre após a chuva", sugere.O fazendeiro Manoel Monteiro, 53 anos, morador da Chácara 178, também concorda que só tapar os buracos não resolve. "Tem de tirar a água da Rua 8. Quando chove, desce tudo de lá. Daqui a pouco, na Rua 10 não vai dar para passar nem a pé", adverte.As associações locais dizem que estão fazendo o possível para promover a infra-estrutura do local. "Fazemos o que está ao nosso alcance, mas dependemos do governo. Fazemos pressão e pedimos ajuda", diz o presidente da Associação de Feirantes, Eduardo Vieira. Segundo ele, o comércio é o maior prejudicado. "A Feira do Produtor recebe, em média, 15 mil visitantes no fim de semana. Após as chuvas, esse número cai de 15% a 20%", lamenta. De acordo com o diretor financeiro da Associação de Feirantes, Pedro Prazeres, a quantidade de buracos inibe os visitantes e quem mora em Vicente Pires tem que fazer uma volta pela Estrutural ou pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG) para chegar até a feira. O presidente da Associação Comunitária, Dirsomar Chaves, afirma não haver nenhuma programação a curto prazo. "É preciso esperar para ver se o governo consegue priorizar a operação no Ibama. A falta da licença ambiental inibe o Estado de fazer a pavimentação das vias", afirma.
Demora para normalizar
A falta de infra-estrutura está relacionado a outro problema, o da regularização de Vicente Pires. Segundo o presidente da Associação Comunitária, Dirsomar Chaves, só quando o projeto urbanístico estiver pronto a situação das ruas irá se normalizar. "Já iniciamos o processo. Pela primeira vez parece que todos os envolvidos – a comunidade, o Ibama e o GDF – estão dispostos a ajudar", diz.Para regularizar a cidade é necessário passar por três etapas. O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), o projeto urbanístico e a licitação fundiária. Segundo Dirsomar, as duas primeiras etapas só precisam ser atualizadas. "Em 2001, foi feito um projeto urbanístico, mas hoje cerca de 40% do projeto já mudou. Só precisamos adequá-lo", informa.Já a licitação fundiária é o que atrasa o processo. Não existe previsão para a venda da terra. "Como a maior parte da área é da União, ela ainda precisa pagar os precatórios aos antigos donos. Até 2009, ela quitará o débito", explica. Dirsomar ressalta que, mediante instrumentos jurídicos, a União pode comprovar que os pagamentos estão sendo efetuados e fazer a licitação. "Tenho esperança de que antes de 2009 a regularização aconteça e por meio de venda direta dos terrenos", diz.

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