terça-feira, 7 de outubro de 2008

Mototáxi no Vicente Pires

Não tem microônibus, as linhas de ônibus são poucas e para fazer pequenos trajetos, como ir da EPTG para uma chácara na Rua 5 próxima à Estrutural (3 km aproximadamente), você tem que passear por todo o Vicente Pires (40 minutos no mínimo). Resultado: os mototáxis resolvem o problema.
Abaixo reportagem do Correio de 06/10:

Motos enfileiradas uma ao lado da outra. Um capacete pendurado no guidom e o outro preso na garupa por uma rede. Em placas, faixas ou pintado na parede, o anúncio da prestação de um serviço clandestino, mas que ocorre livremente em várias cidades do Distrito Federal, sob o olhar desatento das autoridades. São mototáxis ou, para quem não conhece, o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. No DF, estima-se em 1,2 mil o número de mototaxistas sindicalizados. No Brasil, são cerca de 500 mil, segundo a entidade de classe.

Na última quinta-feira, a reportagem do Correio passou o dia observando a movimentação em pontos de mototáxi de Vicente Pires, Gama e São Sebastião. E comprovou que a demanda pelo serviço é alta e, apesar de irregular, a atividade é escancarada para quem quiser ver. Homens e mulheres de todas as idades são levados de um ponto a outro da cidade. A diarista Rosilene Pereira, 25, está entre os clientes. Ela confessa: acha inseguro andar de moto. “Mas os ônibus demoram demais a passar.”

A prestação de serviço ocorre de duas maneiras: o cliente vai até o ponto e contrata a corrida ou liga e o mototaxista vai ao encontro dele. Os preços variam se o lugar é perigoso ou não ou conforme a distância e o horário. A corrida mais barata, geralmente na mesma cidade, custa a partir de R$ 2. É mais caro que a passagem de algumas linhas de ônibus (R$ 1,50). No entanto, é mais cômodo e rápido, argumentam os usuários. Já para o Plano Piloto, sai pela metade do preço de um táxi: R$ 25.

A primeira parada do Correio foi em Vicente Pires, perto do viaduto de Águas Claras. Quando a reportagem chegou, às 11h, havia sete motocicletas estacionadas em frente à empresa de mototáxi. Em 30 minutos, apareceram sete clientes e outros seis motociclistas saíram após atender o chamado pelo telefone. Durante esse tempo, motociclistas e passageiros usaram o capacete, com exceção de um motoqueiro que arrancou na moto com o equipamento de proteção na altura da testa.

Discagem gratuita
Em todos os pontos de mototáxi observados pela reportagem, o serviço é oferecido 24 horas. São comuns frases vendendo facilidades como “de porta a porta” e até números de discagem gratuita ou de ligação a cobrar.

Se o chamado é no fim de semana, algumas empresas cobram uma taxa extra de R$ 1. A violência também encarece o serviço (veja arte). “Se no lugar tiver muito assalto ou pontos de droga, aí é mais caro. E, depois da meia-noite, uma corrida que sai por R$ 3 sobe para R$ 7”, contou Cleuton Benis da Cruz, 23 anos, usuário assíduo de mototáxi em São Sebastião. “Sei que não é seguro porque muitos motoristas não respeitam o motociclista. E tem motoqueiro que abusa. Mas é mais rápido.”

É de mototáxi que a assistente administrativa Waldira Mendes da Silva Pereira, 42, vai ao trabalho e volta para casa. Ela não usa calça comprida. Por isso, senta-se de lado na garupa. “Não tenho medo”, disse. Apesar de o Código de Trânsito Brasileiro não proibir o carona de andar de lado, essa posição não é recomendada. “O mais seguro é andar com uma perna de cada lado para não comprometer o equilíbrio do motorista”, alertou o gerente de Fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca.

Entre os mototaxistas é comum ouvir relato de gente que entrou para a atividade após perder o emprego. Caso de Fernando Lira, 23 anos, há três no ramo de mototáxi. “Pago R$ 100 por mês para trabalhar no ponto e tiro uns R$ 800 por semana”, contou. Fernando reconhece que atua na clandestinidade. “Somos meio piratas, né? Mas o governo tem deixado a gente trabalhar. Não sei até quando”, comentou.

Lucas Santos da Silva, 31 anos, é o dono de um dos pontos de mototáxi observados pela reportagem em Vicente Pires. Ele está no negócio há três anos e abriga 28 motociclistas. Nem assim consegue atender a demanda. “Precisamos conseguir a legalização. Não queremos trabalhar escondidos de ninguém”, afirmou. O presidente do Sindicato dos Motociclistas autônomos do DF (Sindmototaxi-DF), Luiz Carlos Garcia Galvão, espera que o governo regulamente a atividade a exemplo do que fez com os motoboys. “A situação é irreversível. O caminho agora é o da legalização e controle”, defendeu.

Informado pela reportagem sobre a prática de mototáxi no DF, o subsecretário de Trânsito da Secretaria de Transportes, Délio Cardoso, considerou a denúncia grave. “Farei um comunicado ao secretário Alberto Fraga. Vamos abrir procedimento investigatório”, afirmou. Délio Cardoso lembrou que o serviço de mototaxista não é regulamentado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e, portanto, quem desempenha a atividade faz o transporte “pirata”. “Intriga-me como o cidadão pode se valer deste tipo de transporte: irregular, anti-higiênico e arriscado”, criticou.

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