quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Tumulto durante derrubada


Jonal de Brasília

Ontem foram demolidas duas casas de alvenaria, uma de madeirite, um galinheiro e três mil metros de muro. Operação continua hoje
Marcella Oliveira


O Sistema Integrado de Vigilância, Preservação e Conservação de Mananciais (Siv-Água) retomou ontem a derrubada de casas em Áreas de Preservação Permamente (APP) de Vicente Pires. Durante a ação, pela manhã, foram demolidas duas casas de alvenaria, uma de madeirite, um galinheiro e três mil metros de muro. A operação continua hoje. A previsão é derrubar, em duas semanas, as 82 construções irregulares que já foram notificadas.A operação contou com 250 pessoas, entre funcionários do Siv-Água, Siv-Solo e Terracap, policiais militares e garis. Moradores e representantes da União dos Condomínios Horizontais (Unica) e da Associação de Moradores de Vicente Pires (Arvips) fizeram manifestações em frente à Chácara 1 da Colônia Agrícola Samambaia. A presidente da Unica, Junia Bittencourt, e o presidente da Arvips, Dirsomar Chaves, demonstraram revolta com a ação. "É uma agressão pública. Nós somos tratados como criminosos. Culpado é quem parcelou e vendeu, não o morador", argumentou Junia. "Eles precisam ter um lugar para ir. Essas pessoas vão ficar na rua", disse Dirsomar. O presidente da associação defende que seja aplicado o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), encomendado pela Arvips. O estudo prevê um prazo limite de três anos para que as famílias sejam acomodadas em outra área. "Já existe um espaço de 70 hectares destinado para isso na via Estrutural", disse. De acordo com o gerente de operações do Siv-Água, Rafael Moraes, a ordem de serviço é suficiente para que a derrubada seja realizada. "Tentamos fazer as operações pacificamente, evitando confronto com a comunidade", declarou. Segundo Rafael, as operações de ontem foram concluídas com êxito e a resistência foi pequena. O GDF cumpre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre o governo e o Ministério Público no ano passado, que prevê a demolição de todas as edificações em APPs. O prazo se encerrou na semana passada e não foram demolidas todas as construções ilegais. Faltam 82. Dessa forma, a Caesb teve que interromper as obras de instalação da rede de água na região, que foram embargadas pelo Ibama. A primeira construção a ser derrubada ontem foi na Chácara 2. Depois que o trator entrou na rua, policiais militares fizeram uma barreira. Moradores tentaram invadir o local e o clima ficou tenso, mas não houve agressão. Em solidariedade aos colegas, Maria Soares, 49 anos, moradora de outro condomínio, chorou quando a operação começou. "O governo precisa fazer alguma coisa. Precisa haver respeito com essas famílias".A maior resistência foi da moradora Dilma Barbosa, 38 anos. Durante uma hora, ela ficou trancada dentro de casa gritando que não sairia. Sua casa está localizada na Chácara 3, lote 8, em área da mata siliar, próxima a um córrego. Ela só se acalmou quando o marido, o pedreiro Ezequias Ferreira, 28 anos, chegou. Ao lado dele, Dilma assistiu à demolição de sua casa.

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